sábado, 26 de setembro de 2009

Poema: SÓ DE SACANAGEM




MANIFESTOS

Em seu show com Seu Jorge, com firmeza, Ana Carolina declama um poema de Elisa Lucinda, oportuníssimo pela lucidez com que fala desse nosso Brasil. Um recado firme e forte de Elisa Lucinda para aqueles que acham que os verdadeiros cidadãos estão descrentes e desmobilizados diante de tantas trapalhadas de nossos políticos. Para a plena cidadania, tudo isso tem um efeito contrário: o de reafirmar a crença na justiça e nas instituições, na honestidade e na dignidade humana. E no poder da mobilização para transformação e construção de uma realidade mais justa e menos violenta. Esta é a íntegra do poema de Elisa Lucinda:


Só de Sacanagem


Meu coração está aos pulos!


Quantas vezes minha esperança será posta à prova?


Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro.


Do meu dinheiro, do nosso dinheiro,


Que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós.


Para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.


Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.


Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?


É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz.


Mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.


Meu coração tá no escuro.


A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó


E dos justos que os precederam:


“Não roubarás”.


“Devolva o lápis do coleguinha”.


“Esse apontador não é seu, minha filha”.


Pois bem, se mexeram comigo,


Com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,


Então agora eu vou sacanear:


Mais honesta ainda vou ficar!


Só de sacanagem! Dirão:


“Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba”


E eu vou dizer:


“Não importa, será esse o meu carnaval,


vou confiar mais e outra vez”.


Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos.


Vamos pagar limpo a quem a gente deve


e receber limpo do nosso freguês.


Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.


Dirão:


“É inútil, todo o mundo aqui é corrupto,


desde o primeiro homem que veio de Portugal”.


E eu direi: “Não admito, minha esperança é imortal”.


E eu repito:


“Ouviram? IMORTAL!


”Sei que não dá para mudar o começo


Mas, se a gente quiser,


Vai dar para mudar o final!


Elisa Lucinda, 12 de agosto de 2005.


Publicado em:
http://www.avozdocidadao.com.br/detailAgendaCidadania.asp?ID=184

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